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O olhar da C.S. sobre as minhas fotos

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Olhem o que o mar trouxe até aqui ao blog? A C.S. do blog há mar em mim, enviou-me esta história inspirada por uma das minhas fotos. Continua a surpreender-me que as pessoas olhem para as imagens que crio e se sintam inspiradas a escrever textos tão criativos. E este da C.S. não é excepção, ora leiam:

 

Era hoje. O grande dia chegara. Ricardo não queria fazer asneira.


Eram sete horas, o sol tinha nascido há pouco. Levava a passada larga e a respiração acelerada. Corria todos os dias 45 minutos, hábito que lhe ficara daqueles meses de dolorosa separação. Tinha começado a correr porque não sabia o que fazer sem ela.


São estranhas as linhas em que a vida se vai escrevendo, pois Ricardo só compreendeu a dimensão dos seus sentimentos por Rita no dia em que ela, lavada em lágrimas, o deixou. Quando a porta da sua casa se fechou Ricardo sentiu o seu coração despedaçar-se. Uma dor que nunca havia experimentado antes apoderou-se dele. Lancinante. Impiedosa. Estranha. Pela primeira vez Ricardo soube o que era sofrer por amor.


Ele sempre fora o centro das atenções. Os seus olhos azuis sempre foram cobiçados pelo sexo feminino. De sorriso doce e fácil, nunca teve dificuldades em arranjar namorada, por isso namorou muito. Desinteressadamente. Saltando de relação em relação, sem se prender.


Foi a doce e recatada Rita que abalou o seu mundo. Ruiva, sardenta, de olhos verdes e demasiado grandes. Cruzaram-se no segundo ano da faculdade, quando ela se inscreveu numa disciplina extra ao seu currículo. Sentou-se ao lado de Ricardo sem nunca reparar nele. Era concentrada e tirava apontamentos sem parar. Ele não ouviu uma palavra do que o professor disse naquela aula, mas sabe exatamente a roupa que ela tinha vestida naquele dia.


Rita não acedera facilmente às insistências de Ricardo para que saíssem juntos. Ao contrário dele, não estava habituada a receber muita atenção. Mas não conseguia ficar indiferente aqueles olhos azuis e um dia acedeu ao convite dele. Apaixonaram-se com extrema facilidade. Namoraram catorze meses. Mas um dia, Rita descobriu que Ricardo, no jantar de fim de curso, demasiado bêbado, havia passado a noite a namoriscar com uma colega de turma. Confrontou-o. Gritou-lhe. Rita, que nunca perdia a sua serenidade, descontrolou-se. Chorou copiosamente e deixou-o.


O relógio apitou e trouxe-o ao presente. Embrenhado nas suas recordações e emoções Ricardo havia corrido mais que o habitual. Sentia-se cansado, mas feliz por ter conseguido reconquistar a sua Rita. Não fora fácil. Demorara meses, mas ela valera o esforço, a persistência e as noites mal dormidas em que ficara a arquitetar formas da surpreender.


Rita. A sua Rita. Tão bonita.


Hoje pedi-la-ia em casamento. Estava tudo planeado. Levá-la-ia ao Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa. Lá fariam um piquenique e Ricardo declarar-lhe-ia o seu amor. Entregaria a Rita o anel que comprara e dois bilhetes de avião com destino à cidade de sonho dela: Nova Iorque.


Rita. A sua Rita. Tão bonita. Todo o seu mundo.

 

Obrigado C.S.!

 

Estou a contar com as vossas participações! Para se inspirarem dêem uma vista de olhos pelo meu instagramEscrevam uma história de ficção, sobre um episódio da vossa vida, ou simplesmente sobre para onde a mente vos faz viajar. Enviem-me a vossa participação para o meu email (joaoandreqff@gmail.com) e irei publicando aqui no blog.

O novo conto da Catarina (do blog Idem, Aspas)

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Há uns tempos tive o enorme prazer de ver a Catarina, do blog "Idem, Aspas", escrever um conto maravilhoso inspirado por esta foto.

 

Quem conhece o blog já sabe que esta rapariga não pára e talento não lhe falta. E não é que decidiu voltar a esta foto, agora de uma nova perspectiva? Se estão curiosos leiam aqui o novo conto da Catarina. Se não estão... deviam  ler à mesma. Vão ver que dão o tempo por bem empregue!

 

Obrigado, Catarina.

O olhar da Catarina sobre as minhas fotos

Embora seja designer de profissão, a Catarina, do blog Idem Aspas, explora a sua criatividade também através da escrita.  Às vezes a sua imaginação leva-a a reescrever a história do Capuchinho Vermelho. Desta vez fê-la aceitar o desafio de escrever sobre uma das minhas fotografias. Escolheu esta, de um barco vermelho, que a fez navegar por uma história deliciosa que têm mesmo de ler.
 

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"Acordou com um barulho que não percebeu de onde vinha. Nem sabia se tal som tinha existido, ou se o sonhara e tudo se passara na sua mente. Sabia que tinha acordado da sua sesta habitual, e portanto não valia a pena deixar-se estar ali, a tentar retomar o sono interrompido.

 

Levantou-se com esforço, carregando o peso da idade, da sabedoria, e de uma vida atribulada cujos fantasmas não conseguia esquecer. Acariciou o gato malhado que dormia no braço do sofá, e procurou a caneca de leite que tinha levado consigo para a deixar na bancada, não fosse o gato lá chegar. Tinha-o recolhido um dia no cais, aparecera sabe-se lá de onde, e Joaquim encantou-se pela sua cor malhada em tons de ruivo e amarelo. A contragosto acabou por levá-lo para casa, e claro, depois de o alimentar nunca mais dali saíra. O gato seguia-o para todo o lado, e conseguira a proeza de ir com ele num barco à pesca, Joaquim achara isso impossível, mas vira-o com os seus olhos. Por vezes pensava que o gato não era um gato. Tinha algo que lhe lembrava alguém, mas esse alguém já lhe fora levado há muitos anos, e só as lembranças permaneciam.

 

Retirou o casaco do cabide e deixou-o cair sobre os ombros. Janeiro trouxera um frio cortante mas acalmara a chuva e Joaquim saiu para um passeio curto, talvez uma ida ao café, algo que lhe permitisse esticar as pernas. Já não ia para novo, e sentia-se cada vez mais velho.

Desceu a rua empedrada direito ao cais, observou as últimas horas de sol que traziam à vista um tom rosado, e virou-se para tomar a direcção do café.

 

Nesse momento viu-a, parada no cais, perscrutando a paisagem.

 

Não sabia se era ela, achava até que não seria, mas era parecida. Tinha o mesmo cabelo ruivo ondulante, o mesmo andar suave, a constituição delicada. Esperou um momento, olhou em volta. Ao longe a camionete que vinha uma vez por semana afastava-se lentamente pela estrada aos esses. Quando ela se virou pode observar o seu rosto, meio encoberto por uma boina branca que trazia à francesa. Respirou fundo deixando entrar o ar salgado pelos pulmões. Voltara.

 

Depois de tantos anos, já nem sabia bem quantos, ela voltara àquela terra que abandonara tão facilmente, carregando consigo a revolta e o ímpeto dos quinze anos. Durante algum tempo ainda escrevera, mas Joaquim acreditava que teria desistido pela falta de resposta. Na sua cabeça talvez não tivesse percebido que o pai, homem do mar, curtido do sol, não sabia ler, apenas decorava algumas palavras e fingia. Guardava todas as suas cartas, poucas é certo, numa lata na cozinha, e quando a queria recordar retirava-as e alisava o papel e olhava a letra bonita que herdara da mãe. Imaginava-a a viver os seus sonhos, algures numa cidade cheia de luz onde sempre desejara viver.

 

Uma lágrima escorria-lhe pela cara, sentiu-lhe o sabor salgado, limpou as outras com as costas da mão e retomou a direcção do café. Não sabia já se andava, se levitava, se corria. Correr não corria, as suas pernas não deixavam, mas o seu pensamento sim. O seu pensamento correra a abraçá-la, mas o seu corpo fugia do reencontro. Esperaria, mais um pouco e ela escolheria de voltava ou se também fugia"

 

Obrigado Catarina!

 

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O olhar da Letícia Quental sobre as minhas fotos

Estava a contar já ter pelo menos mais um post da viagem a Itália, mas esta semana tem sido complicada no trabalho e o tempo não dá para tudo.

 

Mas trago boas notícias! Se eu não escrevo sobre as minhas fotos, há quem o faça por mim. A Letícia Quental inspirou-se numa fotografia da estação de Santa Apolónia e escreveu este texto, sobre os seus primeiros tempos a viver em Lisboa.

 

Depois de lerem, passem por aqui e visitem a Letícia.

 

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Algures em Setembro de 2007. Não sei precisar o dia, mas sei que foi em Setembro de 2007 que vim para Lisboa viver sozinha.


É engraçado que, passados 10 anos (bolas, como o tempo passa a correr!), o que recordo melhor daquele meu primeiro fim-de-semana em Lisboa não é a excitação de ir viver para a capital, nem o medo das praxes da Universidade, nem a correria desenfreada da busca por um quarto.


Aquilo de que me lembro melhor, aquele sentimento que ainda hoje tenho na memória, foi a partida dela. A minha mãe tinha-me vindo acompanhar naquele primeiro fim-de-semana na capital, e recordo aquele Domingo à tarde como se tivesse sido ontem… Eu fui deixá-la ao comboio, ela ia voltar para Viseu, a nossa terra-natal, que agora já era só deles, do resto da família. Foi uma espécie de aperto no peito. O medo de ficar sozinha numa nova cidade, o desconhecido que aí vinha com o início de uma nova vida, a sensação de “agora sou só eu” e os lisboetas.


Ainda hoje, passado 10 anos, as estações de comboios são só uma estação de comboio quando são os meus pais a irem lá deixar-me e eu volto para a minha vida em Lisboa. Mas são “aquele aperto no peito” quando sou eu a acompanhá-los e eles voltam a casa, e eu fico pela capital.

 

 

Obrigado pelo texto!

 

Entretanto, continuo a contar com as vossas participações! Para se inspirarem dêem uma vista de olhos pelo meu instagramEscrevam uma história de ficção, sobre um episódio da vossa vida, ou simplesmente sobre para onde a mente vos faz viajar. Enviem-me a vossa participação para o meu email (joaoandreqff@gmail.com) e irei publicando aqui no blog.

O olhar da Travellight sobre as minhas fotos

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Há uns dias coloquei aqui estas três fotos de animais. Um gato, um cavalo e um cão. Só por piada lancei um desafio. Que alguém escrevesse uma fábula baseada nas três fotografias. Foi só uma brincadeira, nunca pensei que alguém enviasse mesmo um conto... E não é que a Travellight me escreveu mesmo uma história!? 

 

Se ainda não conhecem o blog dela (acho altamente improvável), façam a viagem até ao The Travellight World e descubram que parte do mundo a Travellight nos vai mostrar hoje!

 

Mas antes disso, leiam o que ela me escreveu:

 

 

Florença - Era uma vez... ... um gato pachorrento, um cão desconfiado e um cavalo a fazer poses para a foto

 

Zitto, o gato, olhava pachorrento para a bela Florença enquanto o sol se punha e mergulhava a cidade na penumbra. O dia tinha sido longo, como eram todos os seus dias.
Não era fácil a vida de um gato de rua, mas ele não se queixava.

A comida nem sempre era certa mas os turistas que enchiam Florença ajudavam muito. Era só aproximar-se de uma das esplanadas à hora das refeições, fazer aquele olhar doce - que ele tinha bem treinado - dar uma pequena turrinha na perna de uma turista desavisada e pronto! Começavam os ahhhh e os ohhhh, e a a comida a cair à sua volta 😺.

Zitto gostava de viver na cidade. Tinha aqui os seus amigos, o mais improvável dos quais era o cavalo Victorio.
Tinham-se conhecido era Zitto ainda um gatinho.

Na verdade Victorio salvara a sua vida…

Ele e os seus irmãos tinham sido retirados à sua mãe, por uma alma cruel, e deixados fechados dentro de um saco para morrer.
Victorio, o cavalo que, todos os dias orgulhosamente percorria a cidade com uma bonita carruagem, ouviu numa das paragens que fazia para descansar, o fraco miado dos pequenos.

Curioso aproximou-se e tentou perceber de onde vinha o som. Logo descobriu o saco escondido a um canto escuro de um beco sujo.

Agarrou nele e entregou-o a Benito, o condutor da carruagem, relinchando e batendo com as patas no chão para explicar a urgência da situação.

Benito era um bom homem e um grande amigo dos animais a quem tratava com respeito. Rapidamente abriu o saco e deparou-se com o horror de 4 gatinhos mortos. Da ninhada só um tinha sobrevivido - Zitto.

A filha de Benito cuidou bem do gatinho e ele recuperou. Passado um tempo já corria e brincava com tudo o que mexia, principalmente com Victorio, que o apadrinhou e o deixava trepar pelas suas pernas para ele poder dormir em cima do seu dorso.

Tinha Zitto um ano quando Benito morreu e a sua filha teve de vender Victorio e imigrar. O gato foi parar à rua mas a amizade com o cavalo manteve-se forte e todos os dias encontravam-se para trocar histórias.

Enquanto Victorio comia e posava para as fotos dos turistas, como aquele Português simpático, chamado João, que tentava apanhar o seu melhor ângulo, Ziito contava-lhe como tinha arreliado Rocco, um cão desconfiado e psicótico que pertencia a uma Inglesa recém chegada a Florença.

O pobre cão ainda não se tinha adaptado à vida em Itália e achava os locais demasiado intrusivos, sempre a tentar fazer-lhe festas e a falar muito alto. Era um inferno, não havia respeito! E depois, como se tudo isso não bastasse, ainda tinha Zitto a atazanar-lhe a vida.

Todos os dias, depois da sesta da manhã, o gato ficava à espera da hora em que a Inglesa ia tomar o pequeno almoço no café em frente a sua casa para irritar Rocco que tinha de ficar à porta do estabelecimento. Era a sua diversão preferida! Era hilário ver como o cachorro perdia a cabeça e chamava pela dona 😸.

Victorio repreendia-o mas no fundo sabia que ele não fazia por mal, apenas queria brincar um pouco com aquele cão mimado. Algo no fundo do seu coração dizia-lhe que com o tempo, Rocco e Zitto se tornariam bons amigos.

… E era assim que passavam os seus dias em Florença, um gato pachorrento, um cão desconfiado e um cavalo que gostava de posar para fotos.

 

Obrigado Travellight !

 

 

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O olhar da Rita sobre as minhas fotos

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Descobri o blog da Rita da Nova há pouco tempo, mas passou rapidamente a fazer parte das minhas leituras diárias. Por lá, a Rita fala dos seus livros, dos seus restaurantes preferidos, das pessoas da sua vida. E sei de fonte segura (porque tenho um amigo que já participou) que dá uns workshops de escrita criativa muito divertidos.

 

Na história que escreveu, a Rita fala de uma infância vivida num Cais do Sodré que quase já não existe. Depois de ler, é fácil perceber porque escolheu esta minha fotografia como ponto de partida. O momento que captei parece conseguir captar um bocadinho dos dois mundos que ainda ali coexistem.

 

Aqui fica a história da Rita da Nova:

 

 

Meio quilo de lote Palace em grão. Meio quilo de lote Palace em grão. Meio quilo de lote Palace em grão.


Eu subia a Rua do Alecrim enquanto repetia mentalmente estas palavras, para não me esquecer do pedido da minha Avó. Cheirava-me a café ainda antes de chegar à Carioca, na Rua da Misericórdia.


Queres que te escreva num papel? Perguntava-me antes de sair, já sabendo a minha resposta. Não. Óbvio que não. Eu já era crescida e sabia o que fazia - desde que não estivesse muita gente para ser atendida, caso contrário o risco de não me lembrar do café que era preciso comprar era maior. A minha Avó nunca pedia para o moerem na loja, preferia fazê-lo em casa, mesmo antes de o colocar na máquina de filtro. Eu também gostava que ela fizesse dessa maneira, porque podia roubar um ou dois grãos para trincar.


Cresci assim, a subir e a descer a Rua do Alecrim. Entre o amplo Largo do Camões e as ruas mais estreitas do Cais do Sodré. Fazia recados à minha Avó, ia buscar-nos o lanche e, em dias de chuva, passava recibos lá no consultório em que ela trabalhava. Acho que foi nessa altura que me apaixonei por Lisboa - eu tinha liberdade e tempo para a descobrir e a cidade, na altura, tinha mais espaço para mim.


Naquela zona, só o Cais do Sodré me assustava. Não era como é hoje, cheio de ruas animadas, restaurantes com filas à porta e ruas pintadas de cor-de- rosa. Era sujo, cheirava mal e tinha pessoas com muito mau aspecto. Aos poucos, a minha Avó começou a levar-me até lá para conhecer as lojas e as pessoas da Rua de São Paulo. A maioria já nem sequer existe, mas gosto sempre de as recordar quando lá passo.


Ela ensinou-me esta parte de Lisboa da mesma forma que se ensinam outras coisas às crianças. Aprendi os nomes das ruas, porque é que devia ir a uma loja e não a outra (apesar de ambas venderem a mesma coisa), quais as áreas que devia evitar. Agora que penso nisso, conheço esta parte da cidade como a palma das minhas mãos e essa é a maior herança que a minha Avó alguma vez me vai deixar.

 

 

Obrigado Rita!

 

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